
sexta-feira, dezembro 31, 2010

domingo, novembro 21, 2010

Semana passada, assisti ao espetáculo Lanternas Vermelhas, do magnífico Balé Nacional da China, o que me fez tomar algumas decisões. Uma delas, única a que dedicarei comentário aqui, diz respeito aos eventos amadores. Não os assistirei mais, pelo menos àqueles produzidos e executados por companhias que se autointitulam amadoras. Não, isso é preguiça disfarçada de honestidade, de tal modo a transigência deve ter limite se se deseja o franco progresso ao mundo. O amadorismo é estado transitório, que precede o pleno domínio da técnica e da compreensão da arte, o que só o estudo devotado e o indispensável talento podem garantir. Pensar em atividade amadora e indiferente ao aprimoramento necessário à manifestação das potências inesgotáveis da arte, da grande arte, seria um retrocesso aos arcanos de ritos ancestrais, assombrados pela ingerência estéril que se satisfaz com a mera reprodução estagnada. O destino da arte está com a função que a legitima qual adjutório ao refinamento humano e é imperioso que cada um auxilie no seu aperfeiçoamento, caso contrário, penso, legaremos às gerações futuras o convívio lastimável com práticas assustadoramente primitivas que nos detêm na precariedade animal.
quinta-feira, novembro 11, 2010
sábado, novembro 06, 2010
quinta-feira, outubro 28, 2010
domingo, outubro 24, 2010
domingo, outubro 10, 2010

sábado, outubro 02, 2010
Teria nascido há trinta anos, sob o céu estrelado de uma noite morna nos confins do Mato Grosso do Sul. Chegou em silêncio, sem o choro que certifica a vida, e não fosse os olhos já abertos e o fôlego regular o julgariam morto. Mais tarde, teria um médico diagnosticado ao discreto horror dos pais uma criança sem cérebro. Cresceu, não obstante a expectativa contrária e adepta à morte iminente. Disse sua primeira palavra aos quinze anos. “Peixe”, ouviu sua mãe atônita o sussurro milagroso. Dois anos passaram e começava a mencionar algo inteligível, se bem que embaçado de mistério. A partir dos vinte e dois anos, começou a proferir diagnósticos confusos, conquanto desconcertantes, pois, ao que parecia, era-lhe possível conhecer a intimidade alheia. Não demorou e sabia das linhas que compunham as plantas dos pés de quem se dispunha ante ao seu olhar neutro. Revelava com palavras cirúrgicas os males da alma que o corpo aparentemente sadio escondia. Predizia a sorte e o infortúnio, as promessas de vida plena, a morte inarredável e insidiosa. Multidões passaram a visitá-lo em busca da verdade dita sem arrodeios ou prevenções. Alguns o evitavam receosos, outros ao ouvir seu nome faziam sinal da cruz e arrematavam um “valei-me!”. Ao fim da tarde e já cansado de atender a tantas pessoas, concluía as atividades diárias com o pedido costumeiro, quando era finalmente conduzido em sua cadeira de rodas e deixado diante da TV. Um dia, sem querer justificar-se, mas como se a empreender rara cortesia, esclareceu-me de seu hábito vespertino e da necessidade de manter a cabeça vazia de coisa alguma. Morreria poucos anos depois, consumido por complicações cardíacas.
terça-feira, setembro 28, 2010
De fato, elas não parecem andar, mas se arrastam com o corpo desajeitado a claudicar passos que nem longe distantes daqueles ensaiados na primeira infância. Essas pessoas esqueceram-se belas algum dia e agora se limitam a suportar a existência, carregando consigo o corpo em franca corrupção, rumo à degenerescência infalível. Onde a beleza? Onde o gesto delicado de quem se conhece, cônscio de suas limitações, se bem que ansioso por superá-las. Onde os olhos altivos de ambições ao benigno progresso?
Há tristeza em alguns, preocupação em muitos e nos que restam o olhar vago, volúvel, a que se costuma atribuir alegria.
Penso no belo, ainda que simples, radiante. Pois é tal estado ou vibração radiosa que denuncia a genuína beleza. Por mais feia que a criatura pareça aos olhos corrompidos pela miopia vulgar, aquela intimamente conciliada e, portanto, em harmonia consigo mesma, irradia algo de arrebatador aos experimentados na observação humana, surpreendendo-os confusos e extasiados diante do aparentemente insondável.

quinta-feira, setembro 23, 2010
Oração: que Miles Davis e Dizzy Gillespie estejam entre os anjos do apocalipse.
quarta-feira, setembro 15, 2010
segunda-feira, setembro 06, 2010
sábado, agosto 28, 2010
segunda-feira, agosto 23, 2010
domingo, agosto 22, 2010
domingo, agosto 15, 2010
Shakespeare: o mundo é um palco: uma biografia, Cia. das Letras, de Bill Bryson, é, antes, uma esforçada crônica da Inglaterra elisabetana que um tratado biográfico. O próprio autor em vários momentos parece se escusar pela empresa modesta, quando alega, por exemplo, a escassez de documentos que auxiliem a elucidação da vida do poeta. De tal modo, há um vasto número de curiosas observações de natureza histórica que, aliadas a outras tantas conjecturas, ajudam a tecer o contexto em que Shakespeare vivia, sem, contudo, desvendar sua intimidade.
Ficamos sabendo dos excessos a que eram submetidos os estudantes londrinos, que tinham que decorar as mais de 150 maneiras diferentes de se dizer “obrigado por sua carta”, em latim. Conhecemos as excêntricas golas picadilly, a dieta de pão preto e queijo seguida pela frugalidade inglesa do século XVII, ou, ainda, do bizarro clareamento de pele provocado pelo composto de enxofre e chumbo que as mulheres passavam no corpo como medida de embelezamento. Enfim, é mais um livro de cansativas especulações, como, aliás, qualquer outra obra que pretenda discorrer sobre a vida do bardo, quem parece haver, premeditadamente(!), cuidado de se preservar da posteridade implacável. Quem sabe...? Seja como for, ficamos com o melhor, e o que diz ao artista, sem dúvida, é sua arte.
sexta-feira, agosto 13, 2010
Bill Evans (piano), Eddie Gomez (contrabaixo) e Alex Riel (bateria).
Quem já teve a oportunidade de assistir a performance de um conjunto jazzístico, talvez também haja observado a satisfação que parece fluir de cada músico que, nesse caso, deixa de lado a máscara austera das orquestras de ofício, para se dedicarem de alma a um prazer, ainda que tão intimamente sentido, contagiante.
Se a verdade é atributo da música, começaria a identificá-la no trio de jazz, por exemplo, pois que seu bom desempenho não prescinde da cumplicidade avessa à dissimulação comezinha.
Não se iludam os precipitados que torcem o bico à eventual audição do jazz, pois é música que não vai ao coração sem antes passar (e repassar) pelo cérebro.
domingo, agosto 08, 2010

A leitura é exercício que atende ao desejo, ainda que irrefletido, do conhecimento de si mesmo. Cada personagem elaborado pelo autor preferido é ser cujos aspectos são passíveis de identidade, de modo a expressar, dos gestos ao pensamento, características peculiares a cada leitor que se reconhece na personalidade ficcional. Assim, o hábito de ler, a que se dedica sem esforço o leitor contumaz, é exame silente de sua (do leitor) própria personalidade, decifrada ao longo do fluxo narrativo, o que projeta a leitura habitual do modesto contexto das atividades lúdicas ao excepcional universo dos recursos emuladores do progresso humano.
quarta-feira, agosto 04, 2010
Em um filme, pouco importa a história, contanto quem a narre o faça sob os auspícios da melhor arte. Esta confiará ao artista comprometido os recessos da beleza, corolário do ato criador, cuja obra ignora o tempo, atravessando-o incólume, qual verdade imorredoura.
domingo, agosto 01, 2010

quarta-feira, julho 28, 2010

Ontem mesmo, fui à locadora, sim, ainda alugo filmes, e dentre estes me chegaram às mãos o anglo-australiano Sherlock Holmes, de Guy Ritchie, e outro, agora francês, Stella, de Sylvie Verheyde. Detive-me por algum minuto e, servindo-me do mencionado critério de valorização do tempo, levei o último. Julguei a melhor escolha e, precipitando um veredicto que dispensa melhor avaliação, calculo insuperável. Stella é uma narrativa sobre descobertas, e aqui sob o prisma extraordinariamente lúcido de uma garota que, aos 11 anos, surpreende com a inteligência de si mesma. Ela se reconhece diferente dos outros – princípio para o autoconhecimento –, preferindo a distância vigilante ao movimento gregário primitivo que remonta das agremiações convencionais aos remotos coacervados. Não que eu acredite seja o homem destinado à solidão, absolutamente, porquanto a entenda qual estágio natural, por mais dorido, que precede a consciência, primeiramente de si, para só então integrar-se ao todo.
Mas voltando à história de descobertas que sempre envolvem escolhas, há algo que chamo a atenção quanto a estas, as escolhas que se impõem com maior ou menor força no curso da existência, e aqui, nas vidas de Stella, e de suas amigas, Gladys e Geneviève. Stella é quem, sem dúvida, experimenta as decisões que precedem as mudanças mais importantes. Filha de pais boêmios e vivendo em cima de um bar na periferia parisiense, tem a oportunidade de estudar em um liceu conceituado, onde faz amizade com Gladys, primeira aluna da classe, filha de intelectuais, leitora de Balzac e de Coqueteau. Gladys, como dizem os mais velhos, estaria de “vida ganha”, haja todos os recursos e circunstâncias favoráveis ao seu progresso. Diversamente, Geneviève, quem, não bastasse a sorte de pais alcoólatras e desempregados, de um irmão aleijado e outra retardada, sofre o anátema infligido pelo preconceito miserável e desumano dos moradores de seu pequeno vilarejo. Entre as duas, Stella a contemplar a glória e a derrota, conquanto ainda não influam em sua infância os juízos que elegem as conveniências ocas em detrimento à afinidade de coeur. E é com a celebração dessa afinidade, dessa sintonia expressa em amizade fiel, que o filme vai encerrando, numa cena de confessa nostalgia, à maneira das reminiscências fundamentais que o tempo tenta, mas não apaga.
segunda-feira, julho 26, 2010
(São Tomás de Aquino)
Adão! Não sobe aí não!
(in Guillaume d`Angleterre)
domingo, julho 25, 2010
sábado, julho 24, 2010
sexta-feira, julho 23, 2010
domingo, julho 18, 2010
