terça-feira, setembro 28, 2010

Sobre o belo
Mais um dia nublado, e mesmo sob o céu cinzento as pessoas contorcem a face, não sei se aborrecidas - agora não mais pelo sol abrasador, mas talvez pela chuva que ameaça -, ou se apenas expressam o hábito que o tempo modela e, por fim, confere imunidade à consciência.
De fato, elas não parecem andar, mas se arrastam com o corpo desajeitado a claudicar passos que nem longe distantes daqueles ensaiados na primeira infância. Essas pessoas esqueceram-se belas algum dia e agora se limitam a suportar a existência, carregando consigo o corpo em franca corrupção, rumo à degenerescência infalível. Onde a beleza? Onde o gesto delicado de quem se conhece, cônscio de suas limitações, se bem que ansioso por superá-las. Onde os olhos altivos de ambições ao benigno progresso?
Há tristeza em alguns, preocupação em muitos e nos que restam o olhar vago, volúvel, a que se costuma atribuir alegria.
Penso no belo, ainda que simples, radiante. Pois é tal estado ou vibração radiosa que denuncia a genuína beleza. Por mais feia que a criatura pareça aos olhos corrompidos pela miopia vulgar, aquela intimamente conciliada e, portanto, em harmonia consigo mesma, irradia algo de arrebatador aos experimentados na observação humana, surpreendendo-os confusos e extasiados diante do aparentemente insondável.

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