quinta-feira, outubro 28, 2010

Anotação atribuída a um suposto J. Dubois, escrita no final do capítulo IV de uma edição de L`étranger, de Camus, Éditions Gallimard; recolhida e posta ao vernáculo por E. Basile.
Compartilho da mesma verdade de uma pedra e a leitura não me deixou mais sábio. Tampouco os títulos aqui amarrotados no bolso asseguram-me a sobrevivência da alma, conquanto me certifiquem qualidades surpreendentemente inúteis. Velho, não temo o homem, mas me constranjo sob o universo indiferente e ainda incompreensível. Quem de Euclides a Heisenberg se atreveu a alguma certeza? Não, o conhecimento humano a ignora, talvez porque impossível aos limites de um cérebro. A existência, pois, afigura-se ensaio inexaurível ao perfeccionista, quando não uma pantomima mal acabada e enfadonha ao transigente. Morrerei em breve e o cansaço será o consolo mais honesto. Cessarei encorajado pelas forças que me deixarão furtivamente, a pedir silêncio aos que ainda deliram com a imortalidade do corpo.

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