domingo, outubro 10, 2010


A semelhança era evidente e disse para mim mesmo: eis aí o Papai Noel. Para a minha eterna surpresa, pois não me entrego fácil à perfunctória evidência, acolheu em sua candidatura a ilustre alcunha. Bem assim o reencontrava, agora a confirmar minha irreverente assertiva, em horário eleitoral tão exíguo para sua ínclita figura. Não foi eleito, se bem conquistou um número de eleitores que superava a expectativa mais otimista, contando votos que ultrapassavam mesmo aqueles mais experimentados ao pleito. Fiquei algo desapontado, confesso, pois nutria desejo íntimo de tê-lo meu representante; e quem melhor senão o próprio Papai Noel?!, lamentava incompreensivo. Pressenti, por fração absurda de instante, a infância que emergia com seus caprichos insólitos. Infância simples e desorientada, que confia a própria vida ao primeiro estranho que lhe aparece amistoso. Será este desconhecido a fortaleza que manterá o ser frágil e sem autonomia longe do perigo sorrateiro; quem proverá à inabilidade dos primeiros anos; ele, pai zeloso, cicerone pronto ao auxílio nas primeiras incursões pela noite inconsciente, e de quem por fim nos desvencilhamos ao raiar do dia. Mas antes que sobrevenham as indeclináveis injunções naturais, muito é feito para que o arquétipo benevolente e protetor nos impinja a nódoa indelével da dependência que, assombrada pelo temor do desamparo, dá causa ao comportamento imaturo e leviano. Então, seguem alguns habituados no excesso ou ressentidos da ausência, a reclamar a presença paterna agora difusa no universo restrito de suas realizações. Por conta disso, apenas suponho, elege-se não o administrador, mas o pai, ainda que menos apto ao governo, pois único capaz de atender às extravagâncias de uma sociedade que se revela imatura, qual a criança indefesa, isenta de responsabilidades por desconhecer as razões que motivam a própria existência. Talvez não por diversos motivos também se crê na personalidade quer-se tão humana, conquanto munida de atributos incríveis, que cuida de cada indivíduo como se pessoalmente, numa prática incessante e subversora de leis que precedem a raça humana. De qualquer modo, a solução parece mais uma vez pertencer ao tempo e sua fábrica de monstros e anjos. Até o Natal!

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