domingo, agosto 08, 2010

Justificam alguns a inapetência pela leitura, arrimados no utilitarismo simplório, numa atitude estranha aos fins mais genuínos que a arte inspira, atinentes ao burilamento íntimo de quem a experimenta. Assim, negam-se a ler qualquer linha os cobiçosos de lucros intangíveis, servindo-se de medidas impraticáveis à aferição das virtudes conquistadas que não se confundem com os adornos ou as contingências.
A leitura é exercício que atende ao desejo, ainda que irrefletido, do conhecimento de si mesmo. Cada personagem elaborado pelo autor preferido é ser cujos aspectos são passíveis de identidade, de modo a expressar, dos gestos ao pensamento, características peculiares a cada leitor que se reconhece na personalidade ficcional. Assim, o hábito de ler, a que se dedica sem esforço o leitor contumaz, é exame silente de sua (do leitor) própria personalidade, decifrada ao longo do fluxo narrativo, o que projeta a leitura habitual do modesto contexto das atividades lúdicas ao excepcional universo dos recursos emuladores do progresso humano.

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