domingo, julho 18, 2010


Con pasión!
“Lembrar é ato que potencializa as faculdades ativas do intelecto”, pensei, não sem algumas recordações que tanto me compeliam ao encalço quanto se mostrassem arredias, a fugir da rede das percepções imediatas. Rede que ainda preservava as primeiras notas de um piano melancólico, seguido pelos olhos de Irene que acompanhavam entre desolados e esperançosos a partida Benjamín. A cena era um quadro tênue, cuja imagem vaporosa sublimava à impermanência, qual um sonho que o tempo esconde, mas evocado pelas razões que a vida exige. Lo Secreto de Sus Ojos, premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro, é mais uma pelicula do diretor argentino Juan José Campanella, quem mais uma vez faz ressaltar no ordinário as impressões de beleza que a arte empresta aos que a tem amizade. No drama, Ricardo Darín, que também trabalhou em outros filmes dirigidos por Campanella, é um funcionário público forense que, ao se aposentar, resolve escrever um romance, cujo mote envolve um crime abominável; se bem que apenas um pretexto para o reencontro consigo mesmo, outrora perdido nas furnas das recordações decantadas. E nessa busca que sempre descamba no autoconhecimento, Benjamín Espósito refaz os caminhos sinuosos da memória, ao longo dos quais revê, ou pela primeira vez experimenta, posto a lucidez que só o tempo revela, as misérias da ignorância humana, a redenção da sincera amizade e a gloria do amor correspondido. Excelente filme para quem sabe e se reconhece humano, ainda que, às vezes, esquecido de sua própria memória, mas sempre disposto à reconciliação de que a arte é especial mediadora.

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