quarta-feira, agosto 24, 2011


Hoje, tive notícias de Borges. Daqui da janela dessa pousada que luta já sem forças contra a decadência inexorável, vi sem poder crer a figura impressionante desviando-se de uma pequena banda que avançava pela ruela estreita. Sem esforço, não obstante a bengala que insistia consigo, atravessou a via de paralelepípedos para finalmente entrar na velha barbearia. Cumprimentou o barbeiro com breve aceno e se deixou numa cadeira próxima à porta. Mantinha um olhar distante, ainda que perscrutador pelo que calculo, e se não bem ciente daquela excepcional visão o julgaria à vontade, a retribuir com familiaridade a experiência nativa. Pensei em chamá-lo, gritá-lo o nome, talvez ter com ele na espelunca onde elegeu a espera inaudita. De repente, como se adivinhasse a intenção remota e inconveniente, ergueu-se lépido, saindo rua abaixo sem satisfações, quem sabe por se recordar de algo muito importante.       

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