sábado, agosto 27, 2011

A Árvore da Vida
Avançava a primeira hora do dia quando saí do cinema. Todos em silêncio em minha volta, alguns choravam, outros apenas retiravam-se cautelosos como se o menor ruído fosse corromper a atmosfera impenetrável que pairava renitente. De fato, não pude evitar a comparação com Kubrick, se bem que o filme de Terrence Malick converte a arte cinematográfica em prece quase dolorosa, não fosse a infalível e redentora esperança. A prece dos que sofrem pelo aparente desamparo, pelo absurdo da vida e seu termo.  Isso não é novidade, a velha ladainha dos incompreendidos pelo pai severo, remoto ou ausente, assim na terra como no céu; mas o que pensar vez diante dos fenômenos imponderáveis de uma natureza insensível às nossas admoestações? Natureza que nos precede e certamente sobreviverá à nossa brevíssima permanência. E eis aí a eloquente composição mediante a que Malick nos incita a pensar a própria existência sem, é claro, arriscar resposta. O próprio filme parece nos conduzir a lugar favorável a tais meditações, a um templo onde está inscrito “silêncio” em seu vestíbulo. Planos em close, cenários cuidadosamente limpos da inconveniente distração e Brahms, e Bach. Após a sessão, tomei o caminho de casa ainda impressionado, buscando no céu uma estrela cadente que arrematasse a noite, um sinal de esperança, talvez. Havia caído na armadilha? Como se já não fosse o bastante as leis universais que se auto-regulam e a tudo, o que mais exigiria de Deus? O privilégio? Um mimo? Sim, acho que ainda somos muito mimados.                 

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