segunda-feira, outubro 22, 2007

Noite de sábado, uma hora da manhã, sentado a uma mesa com amigos em volta. Tudo ia muito bem na balada ordinária, quando fui acometido por um terrível e implacável lapso de lucidez. E, de repente, já não conseguia mais falar, já não ouvia meus amigos e mesmo a cerveja era intragável. Os olhos quiseram-se abertos, entre o susto e o novo que não anunciam aproximação. De repente, aquela gente toda havia se tornado uma grande massa opaca e sem graça. Ponderei sobre o cabimento de estar ali, a participar daquele quadro burlesco e enfadonho. Por um momento, repudiei, repudiei toda aquela fumaça lançada boca afora a lembrar sinistro ritual suicida de longo prazo. Repudiei aquele cheiro de álcool que exalava de corpos animados aos auspícios da flacidez cerebral. Então é assim, ficamos a semana inteira a esperar, ansiosos pela sexta-feira que precede, ora vejam, a nada! Foi quando me lembrei de Nietzche e de Schopenhauer: saí correndo ao banheiro, molhei bem o rosto e fui dançar ao som de um rockzinho sem-vergonha.


Dia seguinte, recaída. Fui assistir ao Tropa de Elite. “Cão quando não vem, manda cem!”, já se fala em minha terra. Não era pra agora, mas, enfim. Assisti.
Finalmente! Finalmente, podemos conhecer outra versão dos fatos. Finalmente algo é mostrado além daquele velho discurso monódico e preguiçoso, para o que policial e bandido se digladiam dia e noite num país distante e fictício, mostrado à curiosidade mórbida e transigente da maioria. Já não nutria simpatias por maconheiro e seus derivados, e, assistindo ao filme, que Deus me perdoe, tive ímpetos de virar o incorruptível Capitão Nascimento e distribuir afabilidades a essa pobre gente incompreendida e carente que, no final das contas, é pena, não consegue encontrar nada melhor pra fazer. Catarse. Tomara possamos exportar heróis policiais, à maneira dos norte-americanos, quem sabe. Enlatados, hã. Por que não? Se bem que os gringos podem achar tudo isso muito miserável.

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