sábado, novembro 05, 2011

Em nome dos artistas
Quando se fala de arte, a primeira coisa que nos ocorre, e antes de qualquer juízo, qual intuição imediata, diz com o belo, com o sentimento inato de harmonia imperecível. Se bem que essa mesma arte, percebida à fortuna da sensibilidade mais ou menos experimentada, é expressa de uma maneira que parece contrariar àquela primeira idéia, indissociável à beleza. E não é de agora. Muito antes de Duchamp e o conceito libertador, os primeiros “artistas” pré-colombianos esculpiam crânios de cristais de quartzo, quando não pintavam murais para registro de um ritual abominável. Mas, dirão, eles não conheceram os gregos e seu fascínio pela beleza; por outro lado, já nos convencemos de que tal idéia do belo é apenas isso, uma invenção, uma mentira para fazer suportáveis os percalços atinentes à condição humana, como queria Nietzsche. Tiramos o olhar um tanto perdido, perscrutador das hostes celestiais, do universo de fascínio insondável, e o redirecionamos à dor de um momento, à fugacidade do agora que grita de urgência. E foi acercado de tais cogitações, mas não tão prevenido, que me deparei com uma vaca partida ao meio em dois tanques cheios de formaldeído com seu filhote em igual condição. Trata-se da obra Mother and Child  Divided, do inglês Damien Hirst, exposta na mostra Em Nome dos Artistas, no prédio da Fundação Bienal, em São Paulo. Quem for à amostra até o dia 04 de dezembro, verá os grandes nomes dessa (nova?) arte cansada do lirismo anacrônico e que, não raro, constrange-nos à reação adormecida. Ah, não deixem de mover os quadros e olhar pelos buracos na instalação In The Future Everything Will be Chrome, de Rirkrit Tiravanija, é mais assustador que a vaca de Hirst.

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