domingo, outubro 09, 2011

Se a questão houvesse, poucos fazem esse tipo de pergunta é bem verdade, sobre qual livro me retribuiu com algum prazer, O Castelo, de Franz Kafka, dificilmente emergiria eleito de minhas recordações. Borges em sua “aula” (Borges, Oral & Siete Noches) dedicada ao livro, fala desse atributo indissociável à leitura, da felicidade, do prazer ainda que lânguido que o leitor deve experimentar ao longo das páginas, de tal modo fracassa o escritor da obra que exige esforço. Mas de que tipo de prazer estamos falando? Poderia arriscar, de modo levianamente arbitrário, a felicidade obtida seja pelas faculdades intelectivas que mesmo e mediante operações de insondável abstração, destilam de um quadro suprematista sincero interesse; seja também pelo arrebatamento, pela comoção instantânea diante do objeto artístico que nos faz supor faculdades supra-racionais. Kafka não parece preocupado com o prazer, em agradar, mas conduzir quem o lê a perspectivas negligenciadas, porque hostis, da existência. Ele nos abre as portas de recônditos segredos de uma humanidade fugidia e atemporal (incorrigível); devassa os porões velados das artimanhas simuladas de pudor, os escaninhos das neuroses, das fragilidades invencíveis. E isso, aparentemente, não traz motivo algum de alegria, não fosse, e essa é a razão que às vezes supera o sentimento, a experiência que se consolidará em aprendizado. Se bem que os caminhos da razão ou do sentimento não tardam à convergência, de tal modo são indissociáveis em seu resultado, pois todo o conhecimento perseguido envolve alguma satisfação ou contrariedade. É um livro para curiosos O Castelo, para aqueles que se ocupam não da película baça da aparência, da superfície perecível, mas dos subterrâneos, das fendas abissais onde os homens se escondem e a seus segredos.         

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