quarta-feira, agosto 31, 2011

Comparar é ato arbitrário das faculdades da percepção munidas apenas de circunscrita ciência.
(...)
Contudo, ainda esta manhã, e me utilizando de tais supedâneos artificiosos que limitações intransponíveis ainda impõem, observava o gato, lembrando-me do cão.  

terça-feira, agosto 30, 2011

Um desocupado, uma câmera e voilà: um vídeo para quem ainda não sabe o que é metalinguagem.

sábado, agosto 27, 2011

A Árvore da Vida
Avançava a primeira hora do dia quando saí do cinema. Todos em silêncio em minha volta, alguns choravam, outros apenas retiravam-se cautelosos como se o menor ruído fosse corromper a atmosfera impenetrável que pairava renitente. De fato, não pude evitar a comparação com Kubrick, se bem que o filme de Terrence Malick converte a arte cinematográfica em prece quase dolorosa, não fosse a infalível e redentora esperança. A prece dos que sofrem pelo aparente desamparo, pelo absurdo da vida e seu termo.  Isso não é novidade, a velha ladainha dos incompreendidos pelo pai severo, remoto ou ausente, assim na terra como no céu; mas o que pensar vez diante dos fenômenos imponderáveis de uma natureza insensível às nossas admoestações? Natureza que nos precede e certamente sobreviverá à nossa brevíssima permanência. E eis aí a eloquente composição mediante a que Malick nos incita a pensar a própria existência sem, é claro, arriscar resposta. O próprio filme parece nos conduzir a lugar favorável a tais meditações, a um templo onde está inscrito “silêncio” em seu vestíbulo. Planos em close, cenários cuidadosamente limpos da inconveniente distração e Brahms, e Bach. Após a sessão, tomei o caminho de casa ainda impressionado, buscando no céu uma estrela cadente que arrematasse a noite, um sinal de esperança, talvez. Havia caído na armadilha? Como se já não fosse o bastante as leis universais que se auto-regulam e a tudo, o que mais exigiria de Deus? O privilégio? Um mimo? Sim, acho que ainda somos muito mimados.                 

quarta-feira, agosto 24, 2011


Hoje, tive notícias de Borges. Daqui da janela dessa pousada que luta já sem forças contra a decadência inexorável, vi sem poder crer a figura impressionante desviando-se de uma pequena banda que avançava pela ruela estreita. Sem esforço, não obstante a bengala que insistia consigo, atravessou a via de paralelepípedos para finalmente entrar na velha barbearia. Cumprimentou o barbeiro com breve aceno e se deixou numa cadeira próxima à porta. Mantinha um olhar distante, ainda que perscrutador pelo que calculo, e se não bem ciente daquela excepcional visão o julgaria à vontade, a retribuir com familiaridade a experiência nativa. Pensei em chamá-lo, gritá-lo o nome, talvez ter com ele na espelunca onde elegeu a espera inaudita. De repente, como se adivinhasse a intenção remota e inconveniente, ergueu-se lépido, saindo rua abaixo sem satisfações, quem sabe por se recordar de algo muito importante.       

segunda-feira, agosto 22, 2011


O pensamento, sem dúvida, é o meu claustro preferido. Nenhum outro traz uma janela tão ampla e iluminada a que mesmo faria supor irrestrita liberdade, não fosse sua altura imponderável.  

domingo, agosto 21, 2011


"Tatyana", Cia. Deborah Colker. Foto, Agência Espetaculum 
Fui assistir ao Tatyana, o novo espetáculo da Cia Deborah Colker de dança, no teatro Tobias Barreto, em Aracaju. Ver um espetáculo desses em uma pequena cidade nordestina, conquanto uma capital, traz junto uma sensação de algo insólito, efêmero, como se se fosse perder a qualquer momento. Dividido em dois atos, o espetáculo se pauta numa história de Pushkin, história de amor não correspondido, fadado, portanto, à tragédia. Presa à narrativa, a primeira parte parece não fluir bem, há mesmo algo de trivial de que a dança contemporânea já está cansada. Mas o segundo ato é outra história. Agora, sem as traquitanas ao estilo Deborah Colker, a atmosfera é de sonho. Rachmaninoff e corpos que finalmente cedem às inclinações mais profundas do espírito afeto à liberdade. Um sonho que, por genuíno, não estranha a confluência do passado e do presente, com feixes luminosos projetados em películas (espécies de filtros) que, por sua vez, remetiam as cenas a um passado remoto, qual daguerreótipo. 

segunda-feira, agosto 08, 2011

quinta-feira, agosto 04, 2011

Esse é o mundo onírico da artista multimídia Miwa Matreyek que em suas performances interage com fantásticas animações. Ela esteve no Anima Mundi deste ano trazendo "Mito e Infraestrutura". Miss you Bjork!

terça-feira, agosto 02, 2011


Filósofos de que nunca ouvi falar (II)
Filho de um comerciante de frutas desidratadas e de uma jornalista redatora do L. A. Post de Minnesota, Jeremy R. Tenenbaum (1895-1972) desde cedo demonstrou interesse nos estudos religiosos e filosóficos. Contava com quinze anos quando escreveu, em um de seus muitos cadernos deixados à posteridade, acerca do que chamou ignorância divina. Segundo ele, o homem vive em demorado estado de aturdimento, pois, ao passo que intui sua origem transcendente, é incapaz de racionalizar a própria divindade ou a primeira “substância” inteligente. Dessa impotência advêm os mais diversos aspectos em que perfilam os orgulhosos e, por isso, ofendidos de sua própria ignorância, assumindo o tom cético e intolerante, como também aqueles calçados na preguiça ou ainda afetos ao embuste tirânico. Estes últimos, calculava Jeremy, eram maioria entre os que se diziam crentes e mesmo de difícil distinção.